Pense, leitor, quantas vezes você já viu uma carreira, uma empresa, um relacionamento, enfim, algo ser destruído pelo ego. Não ceder é longe de ser uma vantagem ou uma glória. Não abrir mão de convicções é uma coisa, ter a convicção fechada apenas em si e nos próprios interesses é outra. No Jornalismo, uma das grandes qualidades que alguém pode ter na área é conseguir se desprender disso e analisar coisas por outros ângulos. Focar apenas em si mesmo e no que enxerga é um grande defeito e quem não analisa isso está fadado a, mais cedo ou mais tarde, tropeçar no próprio ego.

Porém, são constantes as vezes que a gente se depara com uma situação assim. Lidando com tanta gente, com tantas entidades, com tantas áreas, é corriqueiro notar quando algo ou alguém caminha em direção ao poço do próprio ego para afogar-se. Um exemplo vem do esporte, com o craque dos últimos 15 anos do futebol brasileiro sendo constantemente criticado pela imprensa. O que muitas vezes foi visto como perseguição, provou-se quase uma previsão de que Neymar não seria tudo o que foi. Quantas vezes ele agiu com deboche diante dos alertas? Nessa semana, ele fez 32 anos, sem Copa do Mundo, sem Bola de Ouro e jogando já em uma liga para encostados - pode até vir a ser, mas hoje a Arábia Saudita é uma aposentadoria para atletas em atividade encherem os bolsos.

A questão vale também para a política, por exemplo. Agora, a notícia em Brasília é a relação estremecida entre Executivo e Legislativo para lidar com o orçamento. Como esportistas, políticos também tendem a ter o ego infladíssimo. Quando a imprensa cutuca de um lado ou do outro, tende a ser chamada de parcial. Mas quantas vezes a crítica foi em tom de alerta e não foi engolida? Agora, mais uma vez, todo mundo aponta para a gravidade de lidar com o orçamento federal da maneira como vem sendo.

Isso vale também para a vida pessoal. Quantas vezes o "não levo desaforo para casa" teve serventia? Quanta briga de trânsito, demissão, separação, fim de amizade, entre outros problemas, vieram desse ego inflado por essa auto-percepção de ser especial? Embora faça muito bem enxergar-se como protagonista de tudo, muitas vezes parar e notar-se como apenas mais um dentro de uma situação tende a trazer mais ganhos do que perdas.